domingo, 29 de agosto de 2010

Triste fim do bairro Sagrada Família

Triste sina

Espero que o prezado leitor se identifique com a situação, mas particularmente, estou entristecido com o que está acontecendo com o nosso bairro.

Nascido e criado no Sagrada Família BH, observo impotente a destruição das casas aqui construídas; estão sendo progressivamente substituídas por edifícios com inúmeros apartamentos (os próprios nomes, ironicamente, nos remetem ao desprazer, pois lembram os termos "é difícil" e "apertamentos"). Nunca se viu tantos imóveis à venda como agora.

Quando menino, ao observar a construção de um "é difícil" na rua onde morava, tinha a ilusão de tal fato aumentaria a minha quantidade de amigos por metro quadrado. Mal sabia que os novos moradores mal se cumprimentavam no interior do novo imóvel.

A casa de minha mãe possui terreiro, já teve cachorro, galinha e até um cabrito, fato inimaginável nos dias atuais. Costumava brincar com meus colegas na rua e não em um playground, jogava bola na rua, queimadas, soltava papagaio; vídeo game era no último caso.

Sinto muito pelas crianças de hoje em dia, elas vivem aprisionadas, tornam-se antissociais, frágeis, cada vez mais dependentes. Alguns condomínios possuem espaços de lazer internos, ilhas de ilusão, prometendo uma falsa segurança e uma efêmera e quase nunca bem sucedida sociabilização.

Não sou contra mudanças, desde que estas venham melhorar o statu quo e também não me acho demasiadamente saudosista, porém é elementar que as únicas verdadeiramente beneficiadas com essa história toda são as constrututoras e a prefeitura com sua insaciável arrecadação de impostos; cuja infraestrutura disponibilizada, ruas estreitas e meios de transporte ineficientes, não comporta a emergente expansão demografica e de veículos.

Não esqueçamos que o bairro Sagrada Família, atualmente buscado e valorizado, dentro de poucos anos, inexoravelmente, tornará-se um bairro que nada fará lembrar aquele pacato e aconchegante local doutrora.

Sinto muito por mim, pelos outros antigos moradores e pelos novos, que também foram iludidos com a promessa de um bairro "interiorano" e próximo ao centro da cidade, haja vista as ruas Conselheiro Lafaiete e Petrolina na hora do rush.

Sei que o bairro que tive o prazer de desfrutar enquanto criança não existe mais, e que nem voltará a ser o que foi. Também sei que a ambição desmedida e que a irracionalidade das cidades grandes respondem por si só pelo aumento da violência, das drogas, pela diminuição da qualidade de vida, pela nossa "frieza" e indiferença perante os acontecimentos. O que não podemos negar é que temos uma boa parcela de responsabilidade pelo que acontece, embora temos dificuldade em assumir que votamos mal, que não cobramos resultados, que não temos capacidade de nos unir e que, algumas vezes, o problema do próximo também é nosso.

2 comentários:

  1. Cadê as associações de bairro? O que elas pensam sobre isso? Cadê o planejamento da prefeitura?

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  2. O fim do ser humano está nele mesmo.

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